Após prejuízo de mais de R$ 1,5 milhão pela enchente, Oktoberfest de Igrejinha mantém festa para ajudar a comunidade
Símbolo de
superação, 35ª edição acontece de 11 a 20 de outubro e aposta na união das
pessoas para contribuir com a reconstrução da região
Em uma semana, a cidade de
Igrejinha, no Rio Grande do Sul, estará tomada pela alegria da tradicional
festa de outubro, que acontece anualmente no local. Quem visitar o município do
Vale do Paranhana, em busca de cultura e diversão, também poderá prestigiar um
símbolo de superação e reconstrução, já que a cidade teve mais de 80% do seu
território tomado pela enchente que assolou o estado gaúcho em maio deste ano.
Diante dos desafios, a 35ª Oktoberfest de Igrejinha chegou a ser uma dúvida,
mas justamente por ser uma festa que contribui com a cidade e comunidade, a
organização decidiu mantê-la.
“Também fomos duramente
atingidos, inclusive o nosso parque, mas primeiro tínhamos que resolver as
questões humanitárias, e assim o fizemos. Depois, vimos que tínhamos ainda três
meses para organizar a festa e nós, com a persistência dos nossos antepassados,
resolvemos que precisávamos reconstruir, enfrentar essas adversidades e fazer
uma grande festa”, relata Egon Wallauer, presidente da Associação de Amigos da
Oktoberfest de Igrejinha (Amifest), promotora da festa.
Ele ainda explica que o momento
relembrou as dificuldades vividas pelos imigrantes alemães quando chegaram ao
Brasil. “Eles não tinham estradas, água quente e energia, além de viver com
condições alimentares restritas. Vieram com força e coragem para desbravar
essas terras. Neste ano, com as enchentes, vivenciamos um pouco do que eles
passaram naquela época, já que por alguns dias também ficamos sem estrutura,
sem estradas, sem moradia, com alimentos limitados e dificuldades na área de
saúde”, analisa o presidente. “A gente enxerga com uma certa simbologia tudo o
que vivemos, considerando que é exatamente neste ano que comemoramos o
Bicentenário da Imigração Alemã no Brasil”, complementa.
Neste contexto,
Wallauer aproveita para convocar todos a prestigiar a edição deste ano e
contribuir com a reconstrução de Igrejinha e região. “Em tempos
desafiadores, nossa união é mais importante do que nunca. Estamos convidando a
todos para participar de uma Oktoberfest especial, de 11 a 20 de outubro, que
não apenas celebrará nossa resiliência, mas também contribuirá diretamente para
a reconstrução de nossa amada cidade e região. Nossa festa será uma
oportunidade para arrecadar recursos, compartilhar ideias e fomentar a
colaboração entre todas as comunidades. Sua presença faz a diferença!”,
reforça.
Mais
do que uma festa: uma ferramenta de transformação da comunidade
A Oktoberfest de Igrejinha é
reconhecida como a maior festa comunitária do Brasil justamente por ser
realizada por mais de 3 mil voluntários da comunidade desde o surgimento, em
1988. Além disso, a cada edição, o resultado financeiro da festa é revertido
para melhorias na Saúde, Educação, Segurança e Cultura de Igrejinha e cidades
vizinhas. Ao longo dos anos, já foram repassados mais de R$ 28 milhões para
centenas de entidades e causas. Se trata de uma verdadeira festa feita pela
comunidade e para a comunidade.
Assim, neste ano, mais do que
nunca, a Oktoberfest se apresenta como uma ferramenta essencial de
transformação para a região diante dos desafios enfrentados. “Esta será a festa
da superação porque tivemos que superar os desafios em nosso próprio parque e
cidade. Nos reorganizamos para que as pessoas também tivessem coragem de
enfrentar as adversidades. Juntamos as forças do poder público, da iniciativa
privada e da comunidade para conseguir êxito na recuperação. Quando essas três
forças se unem, não há adversidade que não possa ser superada”, destaca
Wallauer.
O presidente explica que, ao
longo da trajetória, a Oktoberfest de Igrejinha lapidou o seu caráter
comunitário e filantrópico. “De uma forma ou de outra, vamos contribuindo para
as entidades, não só no aspecto financeiro. Neste ano, quando nossa região foi
atingida duramente pelas enchentes, não foi diferente. Mais uma vez nos
preocupamos em estar ao lado das entidades, auxiliando-as para a retomada da
normalidade, mantendo a Oktober de 2024 e propiciando a exploração comercial de
lanches no parque”, aponta Wallauer, lembrando que as entidades não precisam
pagar nenhum valor de aluguel para usufruir dos espaços de alimentação do
parque, podendo reverter inteiramente o lucro obtido para melhorias dos
serviços ofertados à comunidade.
Perdas
no Parque da Oktober ultrapassaram R$ 1,5 milhão
Em maio, as correntezas dentro do
Parque da Oktoberfest ultrapassaram dois metros de altura. Consequentemente, as
perdas foram inúmeras. “Perdemos um prédio por inteiro e todos os demais
sofreram avarias, além de estruturas externas. Até o momento, o prejuízo já
ultrapassou R$ 1,5 milhão, mas ainda estamos concluindo as reformas e
contabilizado”, informa Wallauer.
O diretor de Infraestrutura e
Patrimônio da Amifest, Daniel Gustavo Brusius Wilbert, fala um pouco mais sobre
os prejuízos no parque. “A estrutura administrativa da Amifest foi praticamente
toda perdida, assim como os materiais de decoração usados no parque e na
cidade”, contextualiza. Além disso, Wilbert comenta que grande parte das redes
elétrica, de esgoto sanitário, esgoto pluvial e água foram danificadas e
precisaram ser refeitas. “Como nosso parque fica às margens do Rio Paranhana,
também precisamos refazer o sistema de contenção com enrocamento de pedras. Um
dos banheiros foi totalmente perdido porque foi levado pela correnteza e também
perdemos muitas portas e janelas”, detalha.
A enchente também comprometeu a
pavimentação, tanto asfáltica quanto em bloqueto do parque, além de danificar
parte do cercamento do local. Os espaços de alimentação operados pelas
entidades também registraram diversas perdas, comprometendo mobiliários e
utensílios de cozinha. “O nosso parque foi duramente atingido e estamos
trabalhando bastante para termos tudo pronto até a Oktober”, garante o diretor.
Oktoberfest contribuiu na
reconstrução da cidade após enchente
Logo que a inundação aconteceu em
maio, a Amifest foi peça fundamental para auxiliar a comunidade, arrecadando
itens para doações e valores em PIX para contribuir com diversas necessidades
da população naquele momento. “A Oktoberfest de Igrejinha conseguiu mobilizar a
adesão de pessoas de diferentes lugares do Brasil e do mundo, arrecadando quase
meio milhão de reais, e ainda, recebeu e intermediou mais de meio milhão de
reais em materiais diversos como colchões e materiais de limpeza”, expõe o
presidente Wallauer.
Pode se dizer que, naquele
momento, o espirito voluntário característico de Igrejinha, decretada Capital
Estadual do Voluntariado pelo Governo do Estado justamente pelo envolvimento da
comunidade com a Oktober, se alastrou por todos os cantos do estado e Brasil.
Por isso, além da ajuda financeira para a região, o presidente avalia que a
maior contribuição da Oktoberfest foi despertar a empatia e o desejo de ajudar
o próximo, independentemente das fronteiras geográficas. “Essa solidariedade
global não apenas ajudou a mitigar os impactos da tragédia, mas também
fortaleceu os laços entre as pessoas e as comunidades em todo o mundo”, aponta,
relembrando que a Associação recebeu doações de pessoas de diferentes estados
das cinco regiões do Brasil e também de ONGs (Organizações Não Governamentais)
com sedes na Austrália e Suíça, por exemplo.
Para o presidente, a importância
da confirmação da festa neste ano vai além da contribuição financeira que ela
traz à comunidade. “Estaremos retornando para a convivência social, comunitária
e festiva, que também é um propósito da Oktoberfest. E, além disso, a festa
deste ano também servirá para agradecer as ajudas humanitárias que recebemos de
várias regiões do Brasil e do mundo”, pontua.